sábado, 12 de novembro de 2022

Matuto (Novembro 2022)

 

Era um lugar de cidade de interior, afastado de grandes cidades, centros e progresso.


A simplicidade era o que se respirava naquele ar. Poderia ser um lugar bem interior , mas nos dias atuais? Poderia também ser algo que aconteceu à muito tempo, não havia carros ou eletricidade.

Eu era alguém com mais de seus 40 anos vividos, creio que não sabia ler ou escrever, tampouco eu sabia falar bem. Sentia ser inculto ou matuto mesmo. Mas também me sentia comum, provável que na região a maior parte das pessoas era assim também. Eu usava um chapéu que não tinha seu aroma dos melhores, roupas sujas de trabalho, calça de cor escura, suspensório e camisa de manga , que estava suada. 

Acontecia uma festa na cidade, era dia ensolarado e havia música e comida na praça. Todos que podiam estavam naquele local festivo. Eu não sei ao certo se eu tinha esposa ou família no momento, mas fui sozinho para o local. 

Lá havia uma mulher com seus 25 anos ou mais, era bela e tinha sua vaidade na forma de se vestir. Usava uma roupa e sapatos bem simples, porém muito limpos e bem passados, com detalhes românticos com pequenas flores. Sua pele era branca e seu cabelo era escuro, tinha uma pinta na parte superior da bochecha e olhos verdes. Eu não sentia uma atração, mas algum tipo de afeto e cuidado por ela, poderia ser uma familiar, irmã, prima ou conhecida de alguns anos?

Alguma coisa perigosa estava acontecendo na cidade, como algum crime ou alguém desaparecido, eu estava preocupado, assim como todos ali. Quando fui falar com a moça, a mesma ficou nervosa ao me ver, como se estivesse escondendo algo. Ela tinha um romance antigo com um bom rapaz na cidade, acredito ser até um amigo meu, mas ela decidiu que ele não era bom o suficiente para ela e parecia buscar algo diferente do que existia naquele lugar.

Aparece um homem perto dela, ela parecia o conhecer bem , até demais. Este homem tinha uma boa aparência mas não passava confiança alguma, como se eu pudesse ver algo falho em sua construção social. Eu não gostava dele. Tinha também um chapéu e uma barba média e escura, parecia bem afeitada e marcada. Ele tinha algo parecido com um predador em seu olhar. Eu sentia que ela seria a presa. Este homem não era da cidade, não cresceu no meio do povo dali e tinha uma história de vida pronta demais, isto não me parecia nada bom. Olhei para ele enquanto eu falei, porém eu disse para ela:

- Cuidado com o que você está fazendo. Não se deve trocar algo concreto e uma história de vida por um simples momento que não parece certo. 

Ela se zangou, cerrou os lábios e levou o homem pelo braço para o meio das pessoas e da festa, como uma forma de protesto ao que eu disse. Depois de alguns passos eles sumiram entre o povo. 

Em outro momento, era noite. Os homens da cidade estavam indo para a mata , com seus lampiões em uma mão e rifles, espingardas, revólveres e munições nas outras mãos e dentes. Todos procuravam por alguém, e o sentimento era que alguém tinha feito algo muito ruim na cidade e fugido para a mata. 

Eu tinha uma espingarda e também fui caminhando pela mata, estava muito escuro, era abafado. De algum modo eu fiquei distante dos outros pois devo ter entrado em uma trilha alheia. Ouvi passos e senti medo no momento. Pensei e falei alto (de uma forma inculta também):

"- Nói num pudemu abandoná nossas muié sozinhas na cidade purquê eli pode voltá lá".  

Algo me atinge as costas e eu não podia mais me mover, tudo foi anoitecendo até o luar ficar vermelho e cada vez menor até a estrela sumir.

Matuto (Novembro 2022)

  Era um lugar de cidade de interior, afastado de grandes cidades, centros e progresso. A simplicidade era o que se respirava naquele ar. Po...